O índio brasileiro também tem o seu Noé, mas sem Arca
   19 de abril de 2013   │     8:40  │  4

No lugar de Noé, é Tamandaré; no lugar da Arca, a palmeira mais alta da floresta; e no lugar do dilúvio, a inundação.

Quando os brancos tiveram contato com os índios brasileiros se assustaram com a versão deles sobre o dilúvio – e como pode, se eles não sabiam ler e não conheciam a Bíblia?

Pois é; como pode?

Isto apenas comprova que a lenda de Noé e do dilúvio, que a Bíblia consagrou, já era conhecida desde os primórdios, quando a humanidade era politeísta. Faz parte do folclore milenar.

No caso dos índios brasileiros, trata-se da “Lenda de Tamandaré”. É assim:

Tupã ( o deus silvícola ) apareceu para o índio Tamandaré e mandou que ele subisse com a esposa na palmeira mais alta da floresta, porque iria inundar o mundo.

Convenhamos que é bem mais lógico que colocar espécies animais, um casal de cada, numa Arca. Sabendo que existem 360 mil espécies de animais no mundo e que a maioria vive em terra, a Arca de Noé deveria ter o tamanho de 100 porta-aviões enfileirados para caber uma carga de tal magnitude.

Racionalmente, não dá para acreditar.

A versão do índio brasileiro é igualmente uma lenda, mas deveria ter sido mantida. E por que não foi?

Porque era preciso arranjar uma explicação para o restante dos animais que habitam a terra, embora se duvide muito que Noé tenha permitido o cupim entrar na Arca de madeira – sim, de madeira, pois não se conhecia o ferro e o aço. Já imaginou o cupim na madeira molhada por 40 dias e 40 noites? Pense no estrago…

Noé, com certeza, não deixou o cupim embarcar na Arca, mas apesar disso o cupim sobreviveu e ainda hoje está aí causando estragos.

No Dia do Índio, a data deve servir de reflexão não só sobre as condições dos silvícolas brasileiros hoje, mas sobre o “massacre” da sua língua e cultura. Já imaginou se todos os brasileiros descendessem  do Tupiniquim ou Guarani?

Teríamos uma língua própria, pois é sabido que em 1500 essas nações estavam em estágio avançado de conhecimento – inclusive, na arte da guerra, com a fabricação do próprio armamento e o conceito de guerra de guerrilha.

Mas não foi assim.

Para dominá-los o branco apresentou-lhe um deus que não se pode ver, diferente do Sol, mas que mandava em tudo e estava o tempo todo em todo canto. E que sabia de tudo e castigava os desobedientes.

Para arrancar-lhe as riquezas, especialmente o ouro, o branco pôs fogo num galão de álcool dizendo que era água e ameaçou fazer o mesmo com os rios.

E para amedrontá-los, o branco pôs um índio na boca de um canhão e disparou.

Mas hoje o índio quer se nomear, com nome de índio. E não quer mais apito – quer ação.

COMENTÁRIOS
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  1. Lisandro Hubris

    AINDA QUE CHOVESSE 40 MILHÕES DE DIAS, A ÁGUA EXISTENTE NO PLANETA TERRA NÃO AUMENTARIA, pois a CHUVA ou o interminável “Ciclo das águas”; é só a água que tendo evaporado foi parar nas nuvens, onde flutua em forma de vapor, se junta, despenca como chuva, escoa, torna a evapora, e volta a formar NUVENS que podem ser transportadas pelo vento…
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  2. Roland

    Trecho de Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch

    Uma das concepções mais erradas sobre a colonização do Brasil é acreditar que os portugueses fizeram tudo sozinhos. Na verdade, eles precisavam de índios amigos para arranjar comida, entrar no mato à procura de ouro, defender-se de tribos hostis e até mesmo para estabelecer acampamentos na costa.

    O contato das duas culturas merece um retrato ainda mais distinto, até grandiloquente. Quando europeus e ameríndios se reencontraram, em praias do Caribe e do Nordeste brasileiro, romperam um isolamento das migrações humanas que completava 50 mil anos. É verdade que o impacto não foi leve – tanto tempo de separação provocou epidemias e choques culturais. Mas eles aconteceram para os dois lados e não apagam uma verdade essencial: aquele encontro foi um dos episódios mais extraordinários da história do povoamento do ser humano sobre a Terra, com vantagens e descobertas sensacionais tanto para os europeus quanto para centenas de nações indígenas que viviam na América. Um novo ponto de vista sobre esse episódio surge quando se analisa alguns fatos esquecidos da história de índios e portugueses.

    Não se sabe exatamente quantas pessoas viviam no atual território brasileiro – as estimativas variam muito, de 1 milhão a 3,5 milhões de pessoas, divididas em mais de duzentas culturas. Ainda demoraria alguns séculos para essas tribos se reconhecerem na identidade única de índios, um conceito criado pelos europeus. Naquela época, um tupinambá achava um botocudo tão estrangeiro quanto um português. Guerreava contra um tupiniquim com o mesmo gosto com que devorava um jesuíta. Entre todos esses povos, a guerra não era só comum – também fazia parte do calendário das tribos, como um ritual que uma hora ou outra tinha de acontecer. Sobretudo os índios tupis eram obcecados pela guerra

  3. Valdeck

    Caro Bob, quando os militares tomaram o poder, trataram de instituir heróis cívicos, datas comemorativas para incutir no senso comum o positivismo de Benjamin Constant. Uma das datas, é o Dia do Índio, porém, ao “homenageá-lo”, fizeram questão de distanciá-lo da sociedade brasileira tratando-o quase como um extra-terrestre que em abril ressurge todos os anos. Assim, o índio está na galeria de figuras lendárias como Papai Noel e o coelhinho da Páscoa.
    O modo positivista de desconstruir uma imagem e fatos, levou-nos a engolir que os indígenas são metade bobos ou inocentes, metade primitivo, animalesco, maus, ou como você mesmo cognominou em seu texto de silvícolas, sem perceber a carga de preconceito que tem quando o rotulamos assim. É a mesma coisa de chamar qualquer estrangeiro de gringo, resudindo-o, menosprezando-o a um substantivo ou adjetivo pejorativo.
    Se eu perguntar quantas línguas mátrias nós temos, todos sem exceção iriam me ridicularizar ou achar que estou insano, afinal temos uma única língua, certo? Errado. Temos 220 línguas indígenas, temos a libras, além do português.
    Hoje Bob, o índígena não quer se nominar índio, a palavra índio foi um reducionismo português tratando todas as diferentes nações indígenas numa só, com o sentido de facilitar a dominação européia. O que o indígena quer é ser respeitado nos seus direitos, nos seus ritos, nas suas terras e na sua condição de vida. Ainda hoje, nas escolas tanto particulares, quanto públicas, quando falam sobre a nação indígena, remetem ao índio americano quando põem a mão na boca e fazem UHUHUH. O indígena brasileiro não faz isso. Tem seus cânticos, suas danças, suas comidas, suas tradições orais, seus ensinamentos que se perpetuam e resistem ao tempo e a mediocridade cultural brasileira, que cada vez mais perde a sua identidade como povoe como nação.

  4. edson

    A descendencia de noé voltaram a povoar a terra e o evento do diluvio foram levados as gerações seguintes, na medida que os filhos nasciam e ocupavam outras faixas de terras haviam o distanciamento do conhecimento legítimo da história e cada novas comunidade que surgia acrescentavam ou diminuiam os fatos ocorridos , do enrredo prinicipal, então é patente ouvir-se em tempo e lugares diferentes relatos similares.

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