Cerca de quinze dias antes da eleição em 2006, o ex-governador Geraldo Bulhões pediu ao amigo Aderval Viana que lhe conseguisse um contato com o empresário João Lyra, candidato a governador. Bulhões queria lhe dar um recado; na verdade, um conselho.
Em vão.
Aderval tentou romper a barreira para chegar até o João Lyra, mas o máximo que conseguiu foi chegar ao ex-deputado Celso Luiz. E o recado foi dado:
– “Diga ao João Lyra para não gastar dinheiro mais não, porque ele vai perder a eleição” – aconselhou Bulhões.
Também em vão; afinal, João Lyra “liderava” as pesquisas e todos em sua volta já comemoravam a posse, como quem conta com o ovo antes da perua pô-lo.
Foi sem dúvida a campanha mais cara da história de Alagoas; João Lyra parecia “moer” papel moeda e transformá-lo em dinheiro e sabe-se que, na política, o dinheiro só se transforma em votos para quem sabe o momento certo de fazer a mágica.
E o ex-governador Geraldo Bulhões, uma das raposas políticas, entendia que João Lyra sabia moer cana para transformá-la em açúcar e álcool, mas moer dinheiro para transformá-lo em voto era um neófito.
E pior: neófito sem tempo para acompanhar a moagem e, por isso, delegou poderes a terceiros para fazê-lo em seu nome.
Não se sabe se o João Lyra recebeu o recado de Bulhões; talvez tenha recebido e renegado diante do clima antecipado do “já ganhou”. Se foi assim, arca agora com os custos; se não foi paga também o preço de ter confiado em quem não deveria.
O empresário João Lyra sempre foi um financiador da oposição em Alagoas; ele ajudou financeiramente muita gente, mas quando se apresentou para entrar no “negócio da política” deixou se ser simpatizante para se tornar concorrente.
Na eleição de 2006, o hoje vice-governador José Thomaz Nonô definiu a derrota de João Lyra numa frase:
– “O João Lyra montou uma Arca de Noé e pensava que ia dar certo”.
Pois bem; a Arca de Noé adernou com João Lyra a bordo e o dilúvio atingiu as suas empresas – que antes eram modelos e hoje se transformaram no estorvo para a história de sucesso de um homem que começou a trabalhar muito cedo e expandiu os seus negócios com base na competência.
A derrocada do Grupo João Lyra deixa para todos a lição: não é a economia que faz a política e sim a política que faz a economia.
Ou seja: o empresário João Lyra pensava que poderia fazer o político João Lyra. Em vão.
excelente texto, vc é o melhor dos blogueiros da gazeta !