Em 1981, na saudosa Tribuna de Alagoas da Rua João Pessoa, o Cláudio Humberto deu-me a pauta: esmiuçar o balancete da Financeira Produban. O Cláudio Humberto era o chefe de reportagem e assinamos a matéria juntos.
A repercussão foi tamanha, que o Banco Central mandou auditores investigar e o então governador Guilherme Palmeira demitiu toda a diretoria da Financeira Produban.
Por ter cursado Economia na Ufal eu paguei Contabilidade 1 e 2, mas confesso que tivemos de apelar para um especialista que nos decifrasse alguns dos “enigmas” ou maquiagens que se permite fazer porque os números não mentem, mas quem os manipula pode mentir.
Por sugestão do saudoso Noaldo Dantas, fomos procurar o Fernando Gomes, advogado e contador, irmão do médico Humberto Gomes de Melo, para tirar as dúvidas, ou melhor, decifrar os “enigmas” daqueles números aparentemente tão certinhos.
Num balancete o ativo e o passivo tem que bater. É da norma. Mas, nas entrelinhas é onde está o “xis” da questão; por exemplo: o que foi mobilizado, ou seja, os empréstimos realizados, as obrigações a curto prazo, o patrimônio, o haver, etc.
Mesmo que no final do balancete o ativo seja igual ao passivo, isto não quer dizer que está tudo bem; que está tudo perfeito. E não estava mesmo.
Pois bem; a Financeira Produban funcionava na Rua do Comércio, logo no primeiro quarteirão, à esquerda, para quem vem da Praça dos Martírios; e a Tribuna de Alagoas funcionava na Rua João Pessoa, em frente ao prédio do Instituto Histórico e Geográfico.
Os auditores do Banco Central eram inacessíveis; não recebiam jornalistas, não davam entrevista. Mas, eis que, num final de tarde de uma sexta-feira, encontramos um deles bebericando no Bar do Chope e na companhia de um amigo que serviu ao Exército comigo e trabalhava no Produban.
Foi a ponte.
Conseguimos arrancar uma declaração “em off” que foi uma bomba. Seguinte: a maioria dos financiamentos, principalmente para compra de carros, aprovados pela Financeira Produban era para “analfabetos”.
Isto mesmo; o beneficiário se declarava analfabeto, o que despertou a atenção dos auditores do Banco Central. E ainda mais pelo tamanho do polegar com o qual o “analfabeto” assinava a documentação; o polegar deveria ser de algum gigante, tal a largura.
Submetido à perícia da Polícia Federal descobriram que o polegar, na verdade, não era da mão e sim do dedão do pé. Isto mesmo: a esculhambação no Produban estava tão grande que o cara colocava o dedão do pé para registrar a impressão digital do polegar.
Isto foi em 1981 e agora eu pergunto: dá para saber quem de fato quebrou o Banco do Estado de Alagoas? Se alguém souber…