Antes de tragédia, a seca é um grande negócio no Nordeste
   25 de março de 2013   │     15:49  │  1

A seca no Sertão não é uma tragédia; é um negócio.

Na literatura sobre a seca no Sertão nordestino, que pode ser consultada na biblioteca do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em Fortaleza, tem o registro de que Pedro Álvares Cabral poderia também ter “descoberto” a seca, em 1500, se tivesse penetrado 50 léguas para o interior da Bahia.

É que se acredita na “coincidência” de os anos com números repetidos (1777, 1877, 1977) serem secos. Há também o registro sobre o ciclo de 40 anos para se repetir as agruras e os flagelos que mais devastam a região e a população sertaneja.

Mas, a seca no Sertão nordestino sempre foi erroneamente tratada como fenômeno e isto tem uma explicação escabrosa: sendo tratada como fenômeno o dinheiro público vem com o crivo de verba de urgência e emergência, o que dispensa licitações, etc.; e também pode se usar o “fenômeno” para angariar votos.

Outro aspecto dessa explicação escabrosa é a garantia da mão-de-obra barata que migrou para construir São Paulo e o Norte do Paraná, e ocupar o Acre. E ainda: a mão-de-obra para o corte da cana-de-açúcar.

Em Alagoas, 90% da mão-de-obra nos canaviais são de sertanejos que vêm para a zona da mata cortar cana. Obviamente, se resolvessem o problema da seca quem iria construir São Paulo e o Norte do Paraná? Quem iria cortar cana?

E assim o problema da seca foi sendo mantido com maquiagens, ora eram as “frentes de trabalho” pelas quais se desviou dinheiro público; ora eram as campanha para se arrecadar dinheiro que também foi desviado impunemente.

Antes de tragédia, a seca no Sertão nordestino foi (é) um grande negócio.

E é incrível como ainda se debate o problema pelo ângulo do assistencialismo, das verbas de emergência e das ações de filantropias que viciam o cidadão – no dizer da música de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

Em Alagoas, da beira do rio São Francisco ao município sertanejo mais distante tem apenas 100 quilômetros em linha reta. Mas ainda se espera pela água que vem do céu e no lugar de se cobrar ações do poder público, apela-se para São Pedro.

Como se São Pedro fosse o responsável pela tragédia.

COMENTÁRIOS
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  1. Fancisco de Assis Silva

    Finalmente, um comentário lúcido sobre a convivência dos nordestinos com os períodos de estiagem. A seca deste e do outro ano, como previsto pela meteorologia e também pelo meu pai de 96 anos, vai garantir a reeleição de Dilma e de qualquer político que estivesse no poder, independente de partido. um abraço

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