Por que o alagoano tem ódio mortal do alagoano que faz sucesso?
   18 de março de 2013   │     12:48  │  4

Será complexo de inferioridade ou gene estragado pela origem peculiar? Afinal, Alagoas é o único estado que não foi conquistado nem desmembrado; foi outorgado.

Seja como for, o certo é que o alagoano parece mesmo sentir um ódio mortal do conterrâneo que faz sucesso. Vejamos:

O que temos de homenagem a Arthur Ramos, Tavares Bastos, Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Ledo Ivo, Paulo Gracindo, Otávio Brandão, Dida, Pontes de Miranda?

Não temos.

Mas essa idiossincrasia cruel do alagoano não data de hoje. Em 1914 o Graciliano Ramos estava no Rio de Janeiro e escreveu para o pai justificando-se por ainda precisar da mesada que lhe mandava.

Disse na carta que o cara da “colônia alagoana” que havia lhe prometido emprego tinha sumido, e que não iria mais procurar ninguém; iria se virar sozinho.

Mais tarde, num desabafo, Graciliano propôs bombardear a foz do rio São Francisco e fazer Alagoas sumir do mapa, para resolver o problema do Brasil – que, na sua opinião, devia-se a ausência de um golfo.

Destruindo Alagoas e bombardeando a foz do São Francisco se formaria um golfo.

Graciliano Ramos deveria ter as suas razões para o desabafo; afinal, a inveja contra ele levou-o à prisão. Interessante é que Graciliano foi preso porque não obedecia as ordens de um coronel que queria mandar no estado – Graciliano era o que hoje se chama secretário de Educação e não atendeu ao pedido do coronel para transferir uma professora do interior para a capital.

Foi denunciado como comunista.

Outro que foi denunciado como comunista e também acabou preso foi o médico Sebastião da Hora. Na verdade, o médico Sebastião da Hora foi denunciado por um padre-político que não aceitava a pregação da doutrina de Alan Kardec.

Mas como ser espírita não é crime, o padre-político denunciou o Sebastião da Hora como comunista.

São essas coisas peculiares de Alagoas.

Na minha infância eu morei na Avenida Amazonas, no Prado, e costumava jogar futebol na Praça Afrânio Jorge. Lá estavam construindo um Pantheon e diziam que era para guardar os restos mortais dos marechais Deodoro e Floriano Peixoto.

O Phanteon está lá, mas é um elefante branco porque a famílias dos marechais não permitiram trazer os restos mortais deles do Rio de Janeiro.

Elas também devem ter lá as suas razões.

Chega até ser interessante, essa idiossincrasia do alagoano. Na década de 1980 a Globo realizou um Globo Repórter Especial com o Paulo Gracindo e o jornalista Márcio Canuto, editor da Gazeta, me escalou para fazer a cobertura.

Foi uma matéria de bastidores da reportagem. Fomos eu e o fotógrafo Gilberto Farias; à noite, depois da filmagem na Barra de São Miguel, o produtor Jothay Assad comunicou que a filmagem no dia seguinte seria às 5 horas da manhã.

Eu brinquei com a repórter Ilze Scamparine perguntando se o Paulo Gracindo iria tirar leite; ela riu e respondeu que o Paulo Gracindo tinha dito que, quando criança na Pajuçara, costuma sair às 5 da manhã para escovar os dentes com água do mar.

E aí a Ilze Scamparine me perguntou se não havia nenhuma homenagem ao Paulo Gracindo em Maceió; uma praça, uma rua, um monumento que fosse.

Não. Não tem. Tem uma rua com o nome do pai (Demócrito Gracindo)  dele. Mas homenagem a ele mesmo não tem.

Pois é; na semana em que se comemora os 60 anos da morte de Graciliano Ramos tudo permanece como tem sido. E que ninguém ignore se a efeméride passar despercebida, porque é do alagoano odiar o alagoano que faz sucesso!

COMENTÁRIOS
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  1. Mendonça Costa

    Eu sou Alagoano e vim para SP estudar e trabalhar. Aqui venci e construí uma empresa de material hospitalar. Transferi todos os meus negócios e familiares para a capital paulista, depois para o interior, onde montei a fabrica maior. Confesso que apesar de ser natural de Maceió, detesto essa cidade e esse povo. Meus filhos mais novos, fiz questão que nascessem em solo paulista, para que não carregassem a mácula de ser Alagoano. Aqueles que me perguntam, de onde venho, pois carrego ainda o indefectível sotaque, digo que sou natural de pernambuco. Sim, confesso sem o mínimo pudor: tenho vergonha de ser Alagoano. Isso sim é de se fazer vergonha.
    Lembrem-se a meses atras, a morte de Ledo Ivo, na espanha, cujo ultimo desejo foi o de ter seus despojos repousando na capital do estado da guanabara e nao no solo caete.
    Tal qual este, quando sai dai bati os pés, e não vou sequer a passeio.

  2. elson

    Parabens Bob,

    Realmente temos essa ideia mesquinha, penso que a síndrome do cachorro vira-latas é mais forte aqui em Alagoas do que no restante do Brasil. Por este motivo muitos “forasteiros” ganham muito dinheiro aqui e ainda tem a pachorra de mal dizerem nosso estado sem que sejam devidamente admoestados por conterrâneos nossos. Eu que sou arapiraquense de nascença presencio uma discrepância gigantesca em distintas regiões da nossa terra. Em Arapiraca, tem-se um sentimento de orgulho muito grande por ser nascido na terra de Manoel Andre sentimento não tão forte por ser alagoano. O maceioense por sua vez não tem sentimento de cidade nem de estado, salvo raras exceções, verifica-se na falta de cuidado que o cidadão tem com a cidade das mais belas praias de Brasil. Por sua vez, nas cidades fronteiriças o alagoano é muito menos alagoano ainda. Os celulares pegam rede de Sergipe em Penedo e Piaçabuçu, de Pernambuco em Colonia Campestre e região os sistemas básicos de saúde e educação públicos são infinitamente melhor nos Estados vizinhos.
    Assim observados vamos ao que interessa… De quem é a culpa pela não alagoanidade? Políticos, elite, coronéis, burgueses, formadores de opinião? Saber o culpado é o que menos importa! Importa virar o jogo e sermos cada vez mais alagoanos até que isso torne-se contagiante a ponto de andarmos com bandeiras do nosso Estado corriqueiramente.

  3. fred

    No mundo meu caro BOB, as pessoas tem inveja até das coisas que voçe não tem, quanto mais ter inveja de quem cresce na vida, crescer com trabalho e verdade.

  4. Alagoano 1

    Roberto, o problema por aqui é o seguinte, como vivemos numa miséria absurda, somos a maioria de frustados tentado parecer vencedores, quando alguém ao nosso redor de fato vence, significa não a vitória de um dos nossos, mais o atestado de derrota de todos nós. Esse é o nosso processo autofágico.

    PS. Cara, você escreve e pensa muito bem.

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