A discussão sobre a necessidade de reforma na Igreja Católica me remete à juventude, lá no bairro do Bom Parto – que surgiu em torno de uma fábrica de tecidos fundada pelo pai do Zagalo e de uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Bom Parto.

Lá havia um movimento operário-religioso que mesmo depois do golpe de 1964, com a extinção da JOC (Juventude Operária Católica), continuou. Em 1968 foi fundado o Clube de Jovens Católicos do Bom Parto, do qual com muita honra fui presidente.

Fui o terceiro presidente. O primeiro foi o Mário Jorge, o segundo o Severino, que é irmão do ex-jogador do CRB, Ronaldo Brito, precocemente falecido. Pois bem, quando assumi a presidência do clube todos já estavam desconfiados com a ousadia daqueles jovens.

Imaginem que um grupo de jovens católicos de um bairro operário de Maceió se expandiu para Olinda e lá fundou o Clube de Jovens Católicos de Peixinho, na paróquia na Vila Popular, e cujo pároco era amigo do Cajá, que foi secretário de dom Helder Câmara.

Esses mesmos jovens fundaram a Vila São Francisco que se expandiu e fez surgir o complexo hoje conhecido como Vila Brejal, à beira da Lagoa Mundaú.

O frei Afonso, alemão, pároco da Igreja do Bom Parto, era amigo e conterrâneo do frei Caetano, da Igreja dos Martírios. Os dois moravam na mesma residência paroquial na Praça dos Martírios e o frei Caetano conseguiu com a antiga Ceal levar iluminação elétrica para a Vila São Francisco.

Esses jovens também criaram um conjunto musical e introduziram guitarras e baterias nas missas, o que causou reação da ala conservadora, sobretudo as chamadas “Filhas de Maria”, que não admitiam “aqueles cabeludos vestidos com calça Lee boca-de-sino” alterando os dogmas da igreja.

Mesmo sem o apoio do frei Afonso, que até era acusado de estimular “aquele bando de cabeludos”, os conservadores venceram e o clube acabou. E o frei Afonso, um alemão de Colônia e que foi forçado a pertencer à Juventude Nazista, e por isso entrou para o Seminário, se mandou de Maceió como quem diz: não pude impedir que acabassem com o clube, mas também não fico aqui.

O último contato que tive com o frei Afonso ele estava em Triunfo, na Paraíba.

Ora, se numa paróquia de um bairro operário de uma capital nordestina a “reforma” da igreja não foi possível, eu imagino o quanto é difícil a missão do papa Francisco I no resto do mundo católico.

Mas, essa é mesmo a missão para um jesuíta. O primeiro jesuíta, Anchieta, ninguém esquece; e o segundo jesuíta, Nóbrega, também. O lema da Companhia de Jesus, de ir onde ninguém ainda foi, tem mais de 500 anos.

Não por acaso, foi o jesuíta Fernão Cardim que, em 1573, fez o primeiro registro da seca no Nordeste e também dos primeiros flagelados – que eram cerca de 2 mil índios, segundo o relatório dele, fugindo do flagelo nos sertões da Bahia.

O jesuíta Fernão Cardim estava onde ninguém jamais havia pisado. Ele estava exatamente na região onde esta semana a presidente Dilma esteve e sobrevoou.

Eu não sei se o papa Francisco I poderá ir tão longe nessa reforma imperiosa; só sei que essa é a grande chance que a Igreja Católica tem para rever os seus dogmas que já não combinam com à realidade e muito menos com a fé.

Saúde longa para o papa!

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